quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Historia de um homem que amou



Eu fui um homem apaixonado, mas quem não poderia se apaixonar por ela.

Era uma criatura perfeita, perfeita para mim. Mesmo durante as brigas sabia se defender, me deixar culpado.
Depois de anos de namoro resolvemos nos casar, não tenho palavras para descrever aquele momento, vê-la vestida de noiva, indo ao meu encontro, foi o momento que me senti mais próximo do céu. Ela mais parecia um anjo que uma noiva. Chorei ao ver aquela imagem, tremia, ela não poderia ser humana.
Quando engravidou, ficou ainda mais linda, carregava em seu ventre um fruto nosso, do nosso sentimento, mesmo sendo uma gravidez complicada, desfrutei cada momento, mas não imaginaria que isso a levaria de mim.
Durante o parto de nossa menina... Ela não aguentou e foi levada de mim, me tiraram o direito de tê-la.
Voltei para casa com nossa filha nos braços, mas sem o amor que eu tinha, sem minha vida, sem meu motivo para sobreviver.
Neste dia fui pra casa, ainda sem entender, me deitei (sua família cuidou de tudo). Senti-a deitar ao meu lado, senti o seu perfume depois do banho, senti seu calor, como? Não sei explicar. A noite demorou anos para passar, não preguei os olhos.
Resolvi abrir o guarda-roupa, guardei todas as fotos, não consegui ao menos chorar, pensar. Não estava em mim, não era eu.
Durante o velório fiquei de longe, não quis me aproximar, não queria ter certeza que era ela ali, pela ultima vez. Mesmo de longe a vi, ainda estava linda. Vestindo branco, sai correndo, minha filha ficou com a avó, queria me perder, sumir, me joguei na frente de um ônibus, mas o motorista não teve compaixão de tirar a minha vida.
Minha vida naquele momento era pior que a morte. Não vi seu enterro, sei que me jogaria para ficar com ela, onde quer que ela esteja.
Levei aquela criança para casa, sei que não poderia ter culpa de nada, mas a culpei. Culpei aquela criança de ter levado a vida da minha mulher, preferia que ela não tivesse engravidado, trocaria cada minuto com aquela criança por minha amada. Mas tinha que cuidar dela, minha esposa gostaria que eu fizesse isso, ela não me perdoaria se não o fizesse.
O mais difícil foi pela manhã, pude sentir o cheio do café, corri para a cozinha, e nada, não tinha nada. Nunca acreditei em almas, mas era ela, prefiro pensar que sim, talvez o amor dela por mim fosse igualmente grande para não deixa-la ir embora.
Peguei minha filha em meus braços, esquentei o leite de a alimentei. Imaginei como seria linda minha mulher usando seu seio para alimentá-la, seu sorriso olhando para aquele rostinho. Quando dei por mim minha filha me olhava, como se entendesse o que eu estava pensando, o olhar era igual ao da minha mulher, vi naquela criatura a imagem perfeita de minha mulher. A partir dai aprendi a amá-la.
Os anos se passaram, a cada dia ela estava mais parecida com ela, as traquinagens, o sorriso faceiro, dormia mexendo em meus cabelos...
Quando minha filha completou sete anos, resolveu perguntar sobre sua mãe. (Mesmo eu tendo feito de tudo para que ela não sentisse a falta de sua mãe).
- Pai, por que a mãe foi embora?
- Ela era tão legal que o papai do céu a queria lá para cuidar dos anjinhos.
- Mas por que ele não queria que ela cuidasse de mim?
- Por que ele sabia que eu iria cuidar de você.
- Pai, eu iria gostar dela?
- Ela era tão maravilhosa que é impossível alguém não gostar dela.
- Você ainda ama ela?
- A amo
- Ela era bonita?
Peguei as fotos, que nunca havia tido coragem de mexer, e mostrei. Percebi que eram iguais, minha filha e minha esposa.
- Nossa pai! Ela parecia uma princesa.
Chorei a noite inteira, minha mãe soube do que havia acontecido e se desfez das roupas e dos perfumes que até então não pude me desfazer.
Sei que foi uma boa intenção, mas surtei, minha mãe aconselhou que eu saísse, procurasse alguém.
Ela tinha razão, já era hora de sair do luto, que já duravam sete anos.
Sai, encontrei uma moça muito bonita, interessante, me apoiei nela. Sei que não é certo ficar com alguém amando outra pessoa, vendo naquela moça a imagem da minha mulher. Eu tocava seu corpo, mas sentia na verdade o corpo da mulher que realmente amei.
Ela me ajudou a cuidar de minha filha, cuidou como se fosse sua. Tive outro filho com essa mulher (que mesmo me amando, não era minha mulher).
Minha filha cresceu, ficou ainda mais linda que sua mãe. No dia de seu casamento chorei, pois não tive como não comparar, aquilo acabou comigo.
Hoje apenas espero o dia de me encontrar com a minha amada, como digo eu não vivo, apenas sobrevivo, prefiro acreditar em vida após a morte por puro egoísmo, para ter esperanças de viver tudo de novo.
Serei eternamente apaixonado.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Envelhecer dói


Sempre me comovo ao deparar com uma pessoa idosa, olho para mim e me imagino em seu lugar. Com o olhar abatido, as mãos enrugadas, o corpo cansado, a impaciência do demais para comigo, a falta de respeito, a falta do olhar desejoso que despertamos nos outros quando jovens.
Vendo a senhora de setenta anos que vende cocadas e balas de côco no terminal, seus braços frágeis segurando aquela sesta, o dia inteiro em pé, debaixo do sol, oferecendo seu produto enquanto passa despercebida em meio à multidão, como se fosse um nada.
Parei para comprar seu doce, não porque gostava, mas porque ela precisava. Olhei em seus olhos, eram azuis, cheios de tristeza e solidão, um abatimento tão profundo que, por um instante, até achei belo. Fui embora com essa visão.
E por todos os cantos que passe por aquele dia, parei para observar os idosos que me rodeavam. Nunca havia percebido que eram tantos. Sempre sozinhos, sempre passando despercebidos, como sombras.
Meu ônibus chegou e uma multidão de gente se juntou a sua porta, empurrando, machucando. Ao meu lado uma senhora que julguei ter uns sessenta anos, sendo empurrada, assim como eu também estava sendo, porém imaginei colo aquilo era para ela, suas pernas que já não aguentavam tanto, seu corpo franzino... Coloquei-a na minha frente passei o braço em volta do seu corpo e a ajudei.
Pedi a uma garota que estava no banco reservado para que cedesse o lugar a senhora, e esta com muita raiva me respondeu “Estou cansada!”, cansada? Procurei ser um pouco mais ignorante, até que consegui fazer a proeza de fazê-la dar seu lugar a senhora.
Sei que muitos falarão: “Nossa, que boa moça”. Não, não me considero uma boa pessoa. Apenas acho que não vou querer passar por isso.
Não quero passar minha velhice trabalhando, por  não ter condições para me sustentar. Não quero passar pela situação de saber que tenho direito de me sentar em um lugar reservado para pessoas como eu e ter uma... (não darei nomes a um ser desse) ocupando o meu lugar. Não quero ver meu entes queridos morrer, não quero passar despercebida, não quero ter que aturar a falta de atenção, respeito, amor.
O tempo passa e nos toma tudo o que mais damos valor, e leva como o vento leva a poeira que está no chão.