quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Envelhecer dói


Sempre me comovo ao deparar com uma pessoa idosa, olho para mim e me imagino em seu lugar. Com o olhar abatido, as mãos enrugadas, o corpo cansado, a impaciência do demais para comigo, a falta de respeito, a falta do olhar desejoso que despertamos nos outros quando jovens.
Vendo a senhora de setenta anos que vende cocadas e balas de côco no terminal, seus braços frágeis segurando aquela sesta, o dia inteiro em pé, debaixo do sol, oferecendo seu produto enquanto passa despercebida em meio à multidão, como se fosse um nada.
Parei para comprar seu doce, não porque gostava, mas porque ela precisava. Olhei em seus olhos, eram azuis, cheios de tristeza e solidão, um abatimento tão profundo que, por um instante, até achei belo. Fui embora com essa visão.
E por todos os cantos que passe por aquele dia, parei para observar os idosos que me rodeavam. Nunca havia percebido que eram tantos. Sempre sozinhos, sempre passando despercebidos, como sombras.
Meu ônibus chegou e uma multidão de gente se juntou a sua porta, empurrando, machucando. Ao meu lado uma senhora que julguei ter uns sessenta anos, sendo empurrada, assim como eu também estava sendo, porém imaginei colo aquilo era para ela, suas pernas que já não aguentavam tanto, seu corpo franzino... Coloquei-a na minha frente passei o braço em volta do seu corpo e a ajudei.
Pedi a uma garota que estava no banco reservado para que cedesse o lugar a senhora, e esta com muita raiva me respondeu “Estou cansada!”, cansada? Procurei ser um pouco mais ignorante, até que consegui fazer a proeza de fazê-la dar seu lugar a senhora.
Sei que muitos falarão: “Nossa, que boa moça”. Não, não me considero uma boa pessoa. Apenas acho que não vou querer passar por isso.
Não quero passar minha velhice trabalhando, por  não ter condições para me sustentar. Não quero passar pela situação de saber que tenho direito de me sentar em um lugar reservado para pessoas como eu e ter uma... (não darei nomes a um ser desse) ocupando o meu lugar. Não quero ver meu entes queridos morrer, não quero passar despercebida, não quero ter que aturar a falta de atenção, respeito, amor.
O tempo passa e nos toma tudo o que mais damos valor, e leva como o vento leva a poeira que está no chão. 

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