quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Suicida



O que é a vida, se não uma breve passagem. Para alguns, uma busca eterna de felicidade que só existe nos momentos mais hipócritas da vida. Para outros uma busca insaciável por respostas tão obvias que chegam a ser idiotas. Mentiroso daquele que nunca se colocou em uma dessas situações.
Para mim, nem sempre a vida foi uma boa companheira.
Desde pequeno trago comigo as mais diversas falhas de caráter que um homem pode ter. Fui viciado, cretino, chantagista, hipócrita, traidor, ladrão... Pelo que pode ver qualidades não me faltam.
Claro que nem só de falhas vivo, tenho cá comigo minhas qualidades, mas por que mencioná-las, se o que faz a diferença para o próximo são nossos defeitos? Admitam, nos sentimos melhores ao ver as falhas dos outros, é isso que nos faz mais bonitos, atraentes, honestos...
Cansei por diversas vezes disso tudo, preferia direcionar as minhas atenções ao pó branco e ao álcool, eles eram responsáveis pelos melhores e piores momentos de minha vida, mas não há duvida que apenas isso  me fazia alcançar dois extremos.
Sei que estarei sendo condenado, mas serei ainda mais.
Já tentei tirar de mim o que alegam ser uma dádiva, segundo minha mãe, apenas ela pode tirar a vida que me deu, outros culpam Deus por minha existência... Prefiro culpar a mim mesmo.
Minha primeira tentativa foi extremamente pensada. Pensei nos meios mais indolores, pesquisei na internet, lá vi que cortar os pulsos me traria a minha amiga de forma mais tranquila (sim sou covarde).
Comprei uma navalha bem afiada, tranquei o banheiro, me sentei na privada e cortei lentamente. Saiba que existe a forma correta de se cortar os pulsos? Se deve cortar no sentido da veia, pois se o corte cruzar a veia o sangue pode estancar (o que não era a minha intenção).
Suspeitaram da minha demora (mulheres e suas bexigas soltas), por diversas vezes chamaram meu nome, mas estava tão enfraquecido que não podia responde, não sentia dor alguma, apenas uma imensa vontade de dormir, até que apaguei.
Acordei, estava tudo muito claro e embasado, por um instante acreditei em vida após a morte, mas era apenas o hospital, minha primeira tentativa foi mais uma falha.
Fui obrigado a ir a um psicólogo, psiquiatra, pai de santo (tem gente que acredita nessas coisas). Tentaram de tudo para me fazer acreditar que o que eu estava tentando fazer estava errado. Fazia tudo o que me pediam, mas continuava com a ideia em mente.
Pensei em me jogar de um edifício, mas queria ter o direito de ser enterrado com dignidade, ao menos o enterro deveria valer apena. O que já excluiria da lista um tiro na cabeça, ou me atirar em frente a um trem, coisas do tipo.
Arrastei-me pela vida por mais alguns anos.
Pensei em afogamento, mas aprendi a nadar muito jovem, sei que no primeiro momento de desespero tentaria me salvar. Também pensei que morrer sentindo tanta dor não seria uma boa forma de se morrer. Sei o que vão pensar “mas você não que morrer”, quero, mas da forma mais tranquila possível. Imagino que qualquer morte por meio dos quatro elementos deve ser muito dolorida, então descartei de minha lista atear fogo em mim mesmo, me enforcar, ser enterrado vivo...
Um dia aproveitei uma distração de minha família e me entupi de remédios para pressão. Novamente fracassei.
Não entendo, tantos querendo viver, lutando por isso, esperando doação de órgãos ou coisa do tipo e eu que só quero morrer ainda consigo fracassar ao destino mais provável do ser humano.
Perdi as contas de quantas vezes fui salvo, contra minha vontade. Fui apelidado carinhosamente de “O suicida”, podia ouvir os médicos dizendo “adivinha quem está ai... o suicida”.
Depois de tantas tentativas frustradas finalmente aceitei meu destino, parei de encontrar a morte, preferi deixar com que ela venha atrás de mim.

Meus familiares ainda agradecem a Mãe alguma coisa que eles contrataram. O que ninguém imagina é que na verdade eu estava morto há muito tempo, o problema é que ninguém havia percebido.

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