O que é a
vida, se não uma breve passagem. Para alguns, uma busca eterna de felicidade
que só existe nos momentos mais hipócritas da vida. Para outros uma busca
insaciável por respostas tão obvias que chegam a ser idiotas. Mentiroso daquele
que nunca se colocou em uma dessas situações.
Para mim, nem
sempre a vida foi uma boa companheira.
Desde pequeno
trago comigo as mais diversas falhas de caráter que um homem pode ter. Fui viciado,
cretino, chantagista, hipócrita, traidor, ladrão... Pelo que pode ver qualidades
não me faltam.
Claro que nem
só de falhas vivo, tenho cá comigo minhas qualidades, mas por que mencioná-las, se o que faz a diferença para o próximo são nossos defeitos? Admitam, nos
sentimos melhores ao ver as falhas dos outros, é isso que nos faz mais bonitos,
atraentes, honestos...
Cansei por
diversas vezes disso tudo, preferia direcionar as minhas atenções ao pó branco e
ao álcool, eles eram responsáveis pelos melhores e piores momentos de minha
vida, mas não há duvida que apenas isso me
fazia alcançar dois extremos.
Sei que
estarei sendo condenado, mas serei ainda mais.
Já tentei
tirar de mim o que alegam ser uma dádiva, segundo minha mãe, apenas ela pode
tirar a vida que me deu, outros culpam Deus por minha existência... Prefiro
culpar a mim mesmo.
Minha primeira
tentativa foi extremamente pensada. Pensei nos meios mais indolores, pesquisei
na internet, lá vi que cortar os pulsos me traria a minha amiga de forma mais
tranquila (sim sou covarde).
Comprei uma
navalha bem afiada, tranquei o banheiro, me sentei na privada e cortei
lentamente. Saiba que existe a forma correta de se cortar os pulsos? Se deve
cortar no sentido da veia, pois se o corte cruzar a veia o sangue pode estancar
(o que não era a minha intenção).
Suspeitaram da
minha demora (mulheres e suas bexigas soltas), por diversas vezes chamaram meu
nome, mas estava tão enfraquecido que não podia responde, não sentia dor
alguma, apenas uma imensa vontade de dormir, até que apaguei.
Acordei,
estava tudo muito claro e embasado, por um instante acreditei em vida após a
morte, mas era apenas o hospital, minha primeira tentativa foi mais uma falha.
Fui obrigado a
ir a um psicólogo, psiquiatra, pai de santo (tem gente que acredita nessas
coisas). Tentaram de tudo para me fazer acreditar que o que eu estava tentando
fazer estava errado. Fazia tudo o que me pediam, mas continuava com a ideia em
mente.
Pensei em me
jogar de um edifício, mas queria ter o direito de ser enterrado com dignidade,
ao menos o enterro deveria valer apena. O que já excluiria da lista um tiro na
cabeça, ou me atirar em frente a um trem, coisas do tipo.
Arrastei-me
pela vida por mais alguns anos.
Pensei em
afogamento, mas aprendi a nadar muito jovem, sei que no primeiro momento de
desespero tentaria me salvar. Também pensei que morrer sentindo tanta dor não
seria uma boa forma de se morrer. Sei o que vão pensar “mas você não que morrer”,
quero, mas da forma mais tranquila possível. Imagino que qualquer morte por
meio dos quatro elementos deve ser muito dolorida, então descartei de minha lista
atear fogo em mim mesmo, me enforcar, ser enterrado vivo...
Um dia aproveitei
uma distração de minha família e me entupi de remédios para pressão. Novamente
fracassei.
Não entendo,
tantos querendo viver, lutando por isso, esperando doação de órgãos ou coisa do
tipo e eu que só quero morrer ainda consigo fracassar ao destino mais provável
do ser humano.
Perdi as
contas de quantas vezes fui salvo, contra minha vontade. Fui apelidado
carinhosamente de “O suicida”, podia ouvir os médicos dizendo “adivinha quem
está ai... o suicida”.
Depois de
tantas tentativas frustradas finalmente aceitei meu destino, parei de encontrar
a morte, preferi deixar com que ela venha atrás de mim.
Meus
familiares ainda agradecem a Mãe alguma coisa que eles contrataram. O que
ninguém imagina é que na verdade eu estava morto há muito tempo, o problema é
que ninguém havia percebido.
Todo suicida anseia por vida
ResponderExcluirE, a crer na mudança, esbanja esperança
GK
Todos anseiam por vida, mas nem sempre pela própria vida
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirObrigada!
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