terça-feira, 15 de maio de 2012

Marias que choram


Maria começou a vida cedo, vinda de pais que já não se amavam mais, de erros dos outros.  

Começou a fumar com onze, e com onze largou a escola, preferiu trabalhar. 

Com quatorze, depois de muita tristeza conheceu o que seria a solução de seus problemas. 

Engravidou aos quinze anos, e aos quinze anos sentiu a dor de ver um filho morrer (ela era prematura). 

Com dezesseis engravidou novamente, era um menino, seu marido a deixou sozinha e foi comemorar com os amigos. (ela não era digna de poder comemorar). 

Enquanto via seu filho chorar, chorava junto a solidão por ver seu marido trocando o lar por uma garrafa de pinga. 

Com vinte já tinha visto sua mãe ser abandonada por outra família, mas seu pai voltou. Ela experimentou o gosto de perdoar quem amava. 

Ainda aos vinte anos quase viveu a primeira viuvez, e pela primeira vez olhou para o céu e pediu por alguém que havia a feito chorar. (Deus ouve palavras sinceras)

Aos vinte e quatro anos engravidou novamente, dessa vez por opção, uma menina, a menina que tanto queria.

As coisas não mudaram de imediato, e conforme o combinado daria a criança o nome da santa que a ouviu.

Novamente se viu sozinha, o marido comemorou o outro nascimento junto à garrafa.

Por diversas vezes chorou encima do prato vazio, a falta de dinheiro, a solidão que o marido a deixava.

O marido parou de beber ela já tinha mais de trinta, mas ficou novamente desempregado, dessa vez por muito tempo, tempo demais, e ela carregou sozinha a casa nas costas.

No natal, ainda depois dos trinta anos, experimentou pela primeira vez a miséria de não ter o que dar para seus filhos comerem na noite de natal, mas como todo mundo que é bom, tem um anjo. Esse anjo veio em forma de cunhado, que lhe deu o que comer para o mês inteiro. (foi o melhor presente que alguém poderia ter dado).

Seus filhos cresciam, e ela ficou sem seu pai, a dor foi insuperável. (não só pra ela)

Após os quarenta viu outro de sua família cair no vício maldito, dessa vez a dor foi grande, seu primogênito. (parecia estar condenada a essa maldição)

Por mais que ele dissesse que não faria novamente isso se repetia, ela batia, chorava, conversava, mas de nada adiantou.

Aos quarenta e seis foi avó pela primeira vez, embora seu filho não tenha escolhido uma boa mãe para sua neta, ela era imensamente grata, a pequena trouxe novas esperanças.

Viu sua filha se formar, experimentar seu primeiro vestido de noiva (a filha realizou o sonho da mãe).

Mas ainda sofria pelo filho que não tomara jeito. Ela ainda chora por ele, pelo que não conseguiu, pelo que não realizou.

Só queria enxugar as lágrimas dessa Maria.



Essa é só a história de uma das várias Marias que choraram.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto. Conhecemos muitas Marias que lutam, que sonham, se decepcionam, mas estão sempre lá lutando pela família.

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